12 de outubro de 2004

O Poço


Eu sei que, na maioria das vezes, quando projeto meus desejos para o futuro, é sempre para muito próximo da época a qual estou vivendo. Raramente imagino estar fazendo tal coisa daqui a uns quarenta anos...penso no máximo daqui a quarenta dias. Não consigo evitar! Chamam tal ânsia de imediatismo, mas não dá pra ser de outro jeito: quero mesmo para ontem, sem essa de “longo prazo” comigo.
Para aqueles que me vêem como uma pessoa intempestiva e imediatista, tenho uma grande surpresa...eu sei pensar em coisas que possam vir a se realizar em um futuro muito distante...só não acho graça nisso. Tudo que imagino ser possível só depois de muito tempo acabam caindo em um poço fundo existente dentro da minha consciência; este poço tem até nome, chama-se “e se não der”. É batata! Toda vez que penso: “tal coisa podia ser assim quando eu tiver dez anos mais velha”, pronto...o poço engole a idéia e a transforma em uma angústia que me atormenta durante dias. O “e se não der” é, por vezes, bem faminto, insaciável...esses dias ele degustou um de meus planos, o qual eu esperava realizar no final do ano que vem, como se não comesse há vários dias. Digeriu minha idéia em questão de minutos e, logo, arrotou a máxima: “não vai dar”. Ele tem me provado que não se alimenta somente de possibilidades remotas, de idéias mal pensadas, recém geradas...tem ingerido, sem restrições, uma variedade absurda de delícias produzidas por mim. Seguiu comendo, se empanturrando com os meus pensamentos; devorando, principalmente, partes as quais eu julgava indispensáveis.
Dia desses tentei, sem sucesso, enganá-lo: pensei em algo que eu nem queria muito concretizar, só pra ver se ele comia (claro! Assim, eu o teria mantido cheio e poderia voltar a pensar em coisas que realmente valessem a pena). Minha campanha foi um fracasso total; além de não ter comido o falso projeto, “e se não der” vomitou fragmentos de idéias antigas (de várias delas, devo confessar, já nem me recordava mais). Após sua abrupta regurgitação, olhou para mim e grunhiu: “estas porcarias já não me servem mais”. No início me senti meio insultada, porém, em seguida, me dei por conta do que ele quis dizer. Fui analisando cada meta, idéia, objetivo, sonho, plano, desejo dos quais ele havia se nutrido durante estes vinte e três anos... Adaptei algumas idéias, a fim de que se tornassem mais verossímeis em relação a minha atual realidade; reorganizei vários planos, aparentemente não mais tão impossíveis a curto prazo. Tive que sentar por um longo tempo e meditar acerca de alguns desejos e sonhos...a maioria deles não me parecia, assim, importantes, indispensáveis como, outrora, demonstraram ser. No entanto, a maior surpresa se deu quando resolvi rever meus objetivos e metas...percebi que havia tomado um rumo completamente diferente daqueles que tinha por certeza absoluta; eles pareciam de outra pessoa...
E eram mesmo! Pertenciam àquela garotinha que quis ser médica, veterinária, bióloga...que quis trabalhar cedo, dormir até tarde...que não queria gostar de quem não gostasse dela, mas que amou todas as pessoas com quem conviveu (por muito ou pouco tempo). Todos os elementos expelidos pelo poço estavam incompletos...faltavam partes das quais ele ainda não estava preparado para se desfazer... Ou será que “e se não der” acha que sou eu quem não estou preparada para recebê-los? Veremos...daqui alguns anos (espero que não demore!)

Um comentário:

Cacau disse...

Nossa, Mi! Que loucura! Eu também já me senti assim por diversas vezes. Pensa bastante nas ideias antigas, de repente tu aproveita alguma delas!
Ah, amei ser convidada pra participar do teu blog! Logo eu posto alguma coisa pra marcar presença... Mas vai ser uma grande responsabilidade, pois tu escreves muito melhor do que eu, além de ter assuntos melhores, mas vou dar tudo de mim! heheh!
Te adoro, viu!
bjinhos da afilhada (tá próximo! hehehe) Claudinha