12 de fevereiro de 2005

O ESPIÃO



Algum dia, serei capaz de estar em um lugar
Onde eu não tenha que suportar a minha presença.
Poderei tomar banho sozinha, sem ter
A mim mesma olhando pelo buraco da fechadura.
Irei ao cinema sem ter minhas conclusões
Compartilhadas com as conclusões as quais cheguei.
Verei a beleza de um dia passando sem encarar
Meu olhar crítico achando que poderia ter sido melhor.
Lerei um livroSem ser com os meus olhos.
Viajarei Sem a minha companhia.
Escreverei
Sem ser com a minha letra.
Cantarei
Sem usar minha voz.
Amarei
Sem fazer sofrer meu coração.

NOTÍVAGA



Carro na rua
Ruído de motor
Cães nas calçadas
Canção de latidos
Gato no muro
Barulho do miado
Enquanto isso, no quarto ao lado...

Pessoas andando
Ainda ouço seus passos
Vento soprando
Sinto seus abraços
Dia chegando
Enxergo sua entrada
Enquanto isso, na madrugada...

Pessoas no carro
Ouço ruído de seus motores
Cães ao vento
Sinto a canção de seus abraços
Gato de dia
Enxergo no barulho uma entrada
Enquanto isso, permanece madrugada no quarto ao lado.

ABC


Ao amanhecer
Bom é beijar a boca
Cálida e calada
Doce divina
Eternamente
Forçada a falar
Gratuitamente
Hostilidades
Intimidando e
Julgando
Loucos, levianos
Meus melancólicos
Negligenciados, norteados ao
Ostracismos,
Pensamentos portadores do
Querer quase
Raro, ressoados
Sorrateiramente
Tornando toda
Uma
Vida vazia.