4 de setembro de 2005

"Posso ouvir o vento passar, assitir à onda bater, mas o estrago que faz A VIDA É CURTA PRA VER!"


É caminhando pelas baixas e estreitas ruas
Da pobre cidade suja, porém bela
Que sou capaz de ver o que olhando pela janela
Não reconheço como legítimas belezas suas.

Esquecendo-me da velocidade dos ponteiros ágeis
Abandono minha vida à brisa, ao ar
O pensamento que não mais quer alcançar
Os dias. Oh dias, por que vos arrastais e não correis?

De pedras é feito o caminho e os pés
De carne fraca e ossos torpes
Que por mais tenra e suavemente que me toques
Transformam em nada o todo que és.

Ideais traçados não abrem espaço
Para o que não se quer ou espera
Remonta, forja uma nova era
Pela qual não luto, apenas passo.

30 de abril de 2005

CASTIGO É PARA QUEM ACREDITA EM CERTO E ERRADO



Será pecado adorar
O modo como mordo
Teu lábio inferior?

Não pode ser errado
Amar o gesto tolo e belo
Do teu cotidiano

Coça a barba com três dedos
Me acalma em dois toques
Silencia por um beijo

PREFERÊNCIAS



Meu amor por ela
É como teu amor por ele
O afeto dele
É do tamanho do carinho dela

Minha admiração por ela
É como teu fascínio por ele
O orgulho dele
É do tamanho da devoção dela

Minhas conversas com ela
São como teus debates com ele
Os recados dele
São do tamanho dos bilhetes dela

Eu tenho o sorriso dela
Tu tens os olhos dele
Tu lembras ele
Eu pareço ela

Eu sou dela
Como tu foste dele
Tão teu foi ele
Quanto minha é ela

Eles tinham o jeito deles
Nós, o nosso.

DÚVIDA



Teus lábios nunca me dizem
A intenção implícita em teus atos
Tu tens razão para ocultá-la?

Ah...Tens razão!

Teus passos rápidos te fazem
Perder de vista o que ficou para trás
Tu tens motivo para fugir?

Ah...Tens um bom motivo!

Fico sem jeito para te contar
A motivação que me torna racional
Tu tens como perceber?

Ah...!

REGRA



Quem sabe ao certo
Até onde é possível ir
De olhos fechados
Desconhece os limites
Impostos pela luz
E pela obrigatoriedade
De estar sempre de olhos abertos.

QUASE



Não te vejo há quase um minuto
Não te toco há quase um dia
Não te sinto há quase um mês
Não te falo há quase um ano
O quanto te quero
O quanto te amo
Há quase uma vida

23 de abril de 2005

SENTIDOS


Quero dizer “adeus!” aquele que tem em mente
O objetivo de me dizer adeus antes que eu o diga.
Quero dizer “te amo!” aquele que nunca disse
E nem pensa em dizer, pelo simples fato de não achar tal expressão necessária.
Quero dizer “talvez!” aquele que há anos ouve o meu “não”
E os transforma em “talvez” só para saber se será capaz de transforma-lo em “sim”.

Quero sentir o toque da mão gelada, chegada da rua tarde da noite, sem explicação e Aquecê-la com o calor caseiro que exala de mim, quente e sedento por um porque.
Quero sentir o cheiro do tinto corpo que escorre na direção contrária a que vou.
Quero sentir o gosto amargo da lágrima alcançando teu queixo
E encerrando sua trajetória no tapete do chão da sala.

Quero tocar em teus olhos e fecha-los para tudo aquilo que desvia a tua atenção.
Quero tocar em tua boca e fecha-la para todas as palavras
Que me fazem não te querer por perto.
Quero tocar em tuas mãos e abri-las para que
Possam conviver livremente com as minhas.

Quero ver o sorriso que antes era fácil e doce,
Mas que já não se mostra na minha presença.
Quero ver a beleza do olhar sincero que antes era apaixonado,
Mas que já não me segue.
Quero ver a tristeza presente no teu rosto, como outrora se encontrava,
No momento em de ir embora.

Quero ouvir as palavras que vieste aqui me dizer, mesmo que doam.
Quero ouvir nossa canção que fizeste pensando em mim, nem que seja pela última vez.
Quero ouvir o som da despedida vindo dos teus lábios;
Pois, pelo menos, será o som da tua voz que irá corroer os meus dias.

20 de março de 2005

Será que a juventude ainda é uma banda numa propaganda de refrigerante?


Fico preocupada com a banalização da perda da identidade defendida por alguns formadores de opinião. Jovens são, sem medo de generalizar, influenciáveis sim! Leciono para adolescentes por mais de cinco anos e esta afirmação é incontestável. Graças a Deus, nem todos os jovens têm como modelos o Charlie Brown Jr, Marcelo D2, CPM 22 e outros estereótipos de Peter Pan às avessas (tenho 42 anos, mas vou me comportar como um moleque para ser popular entre a faixa etária mais frágil). Chamo os jovens de influenciáveis não somente por causa daquele papo piegas de que “eles estão passando por uma fase conturbada, não sabem ao certo o que querem e blá blá blá” (até mesmo, porque tenho alunos de 13 anos que já sabem o que querem para a sua vida e o que acham dispensável e/ou inadequado). Os chamo de influenciáveis porque todos nós (não somente quando jovens) seguimos modelos e exemplos de alguém a quem admiramos, sejam eles celebridades ou familiares. Um jovem que tem um modelo de vida (nem que seja por alguns meses ou anos) vai defendê-lo, amá-lo e tentar fazer com que as pessoas com quem convive acreditem nas virtudes de seu ídolo; para eles a maneira mais fácil de expressar tais virtudes é, muitas vezes, as copiando. Resumindo, seja o Chorão ou Ghandi, o exemplo escolhido será imitado e, até mesmo, cultuado.
Acredito muito na coerência e por isso recrimino (e até condeno... porque não?) atitudes como a do Chorão, do CPM 22, do Falcão e do D2 por deixarem todo o papo ideológico de lado para vender um produto que nada tem a ver com o ideal que pregam. Querem consumir, ok, mas não precisam tentar convencer ninguém dos benefícios desta ou daquela cerveja, deste ou daquele refri, só para que suas carteiras fiquem recheadas com uma grana que não foi oriunda de seus shows nem da venda de seus cds (combinemos que, para “artistas” como eles, não é pouca). Diferente do que pensa algumas pessoas que trabalham nesta área, música é (ou pelo menos deveria ser) acima de tudo uma expressão artística...é arte e não simples mercadoria. É lógico que o músico sem propaganda não vende seu produto, mas é o seu produto que deve ser vendido, não o músico. Muitos artistas sempre foram, ao longo de suas carreiras, coerentes com a sua forma de fazer e expressar a arte, não é assim tão difícil. Por isso é que não entendo essa ânsia de ganhar grana corrompendo e sendo responsável por uma péssima influência. Agora tem até artistas “globais” fazendo propagandas demonstrando para aposentados as facilidades de adquirir um empréstimo em bancos privados, sem sair de casa e tendo tudo descontado direto de suas pensões ou aposentadorias...”em até 40 meses e com juros pequenininhos!”
Acho igualmente absurdo comportamentos inadequados durante um show com censura livre ou de, no máximo, 13 anos. Marcelo D2, por exemplo, grita várias vezes (como pude ver em um show apresentado pela MTV): “Quero ver fumaça aí...tem pouca gente fazendo fumaça aí...!” e, em seguida: “agora, vou chamar meu filho”...e o guri ainda canta “evoluo com o meu pai!”... tenha dó! O Chorão, por sua vez, fica incentivando aquelas rodinhas ridículas de gente se debatendo. Sem falar no Dinho Ouro Preto que não canta, só fica dizendo: “Do caralho...pô, do caralho...” a cada 5 minutos.
Mas há esperança! Por outro lado existem artistas de verdade como Herbert Vianna que, como pude presenciar em um show aqui em Porto Alegre, parou o show a fim de apartar, verbalmente, uma briga que estava acontecendo no meio da multidão. Fiquei mais apaixonada do que sempre fui pelos Hermanos (especialmente, neste caso, Camelo) por terem a sensibilidade de perceber, em seu último show no Bar Opinião (onde compareceram, pasme, quase quatro mil pessoas...sim...no Opinião...imagina o atrolho) que havia muito mais pessoas do que a capacidade do local. Num gesto simples, Camelo pediu para que as pessoas deixassem os pulos para uma próxima ocasião, pois as pessoas poderiam se machucar (lembro que ele brincou, dizendo: “Putz, qualquer dia a gente vai ter que voltar pro Araújo”, pois já haviam estado lá na época da febre “Anna Julia”... e realmente, o show que teve depois foi mesmo no Araújo...adivinha, lotou). Acho que artistas como Camelo tem, sim, o direito de dar sua opinião (principalmente quando inserida em um contexto) nas poucas entrevistas que concede; afinal, suas opiniões não são segredo para quem ouve suas músicas, ele as deixa bem claras.
Por último, mas não menos importante, acho que perder sua identidade só por causa de grana, fazer apologia a drogas, álcool e violência é pior do que aumentar salário de deputado, pois os danos são infinitamente mais dolorosos: no caso dos deputados, é só não votar mais nos que acham justo ganhar uma fortuna; mas e no caso dos milhares (se não milhões) de jovens que morrem por dirigir embriagado, ou por terem sofrido uma overdose, ou por terem cabeceado o nariz de alguém e terem levado uma facada, ou um tiro. Artistas têm, e acho que sempre terão, o poder de influenciar positiva ou negativamente às pessoas que os assistem, ouvem. A mídia, em sua grande maioria, no entanto está aí para selecionar o que deve e o que não deve ser aceito pelos jovens. Convenhamos, quer melhor maneira de acabar com uma ideologia do que comprá-la e expô-la a exaustão até que se torne banal e fraca? Caso saiba uma maneira mais rápida e eficaz de prender as mentes e fazer com que desistam de suas idéias e de seus ideais, mande imediatamente para jornalismo@globo.com ou, quem sabe, zerohora@clickrbs.com.br , com certeza, esta informação será muito bem aceita.

12 de fevereiro de 2005

O ESPIÃO



Algum dia, serei capaz de estar em um lugar
Onde eu não tenha que suportar a minha presença.
Poderei tomar banho sozinha, sem ter
A mim mesma olhando pelo buraco da fechadura.
Irei ao cinema sem ter minhas conclusões
Compartilhadas com as conclusões as quais cheguei.
Verei a beleza de um dia passando sem encarar
Meu olhar crítico achando que poderia ter sido melhor.
Lerei um livroSem ser com os meus olhos.
Viajarei Sem a minha companhia.
Escreverei
Sem ser com a minha letra.
Cantarei
Sem usar minha voz.
Amarei
Sem fazer sofrer meu coração.

NOTÍVAGA



Carro na rua
Ruído de motor
Cães nas calçadas
Canção de latidos
Gato no muro
Barulho do miado
Enquanto isso, no quarto ao lado...

Pessoas andando
Ainda ouço seus passos
Vento soprando
Sinto seus abraços
Dia chegando
Enxergo sua entrada
Enquanto isso, na madrugada...

Pessoas no carro
Ouço ruído de seus motores
Cães ao vento
Sinto a canção de seus abraços
Gato de dia
Enxergo no barulho uma entrada
Enquanto isso, permanece madrugada no quarto ao lado.

ABC


Ao amanhecer
Bom é beijar a boca
Cálida e calada
Doce divina
Eternamente
Forçada a falar
Gratuitamente
Hostilidades
Intimidando e
Julgando
Loucos, levianos
Meus melancólicos
Negligenciados, norteados ao
Ostracismos,
Pensamentos portadores do
Querer quase
Raro, ressoados
Sorrateiramente
Tornando toda
Uma
Vida vazia.